No silêncio do lago moravam um monge e seu pequeno discípulo de seis anos de idade numa choupana. Um dia, o pequeno discípulo, que já conhecia bem os arredores do lago, prepara uma brincadeira que, embora inocente, poderia engendrar problemas em seu destino. Numa pequena foz, onde havia uma água calminha entre pedras, o pequeno discípulo, munido de um barbante, captura um peixinho e com uma ponta do barbante lhe faz um laço perto da cabeça. Com a outra, laça um seixo. O peixinho fica ancorado ao leito do rio sem poder mover um milímetro o seixo; em seguida, captura uma rã, e, com outro pedaço de barbante, faz a mesma coisa, coloca a rã na água e a observa tentando nadar com aquele fardo, e tentando subir pelas pedras com aquele fardo. E o pequeno se põe a rir de todo pulmão. Depois, captura ainda uma cobra que por ali passeava. Faz o mesmo procedimento e a cobra fica ali se contorcendo, tentando se livrar do peso... E tudo é riso de quase se mijar todo. No entanto, o monge observava de longe, furtivo, composto ao arredor como se nunca estivesse ali.
Mais tarde, depois de um ainda longo passeio, o pequeno discípulo volta ao lago e entra na choupana. Cumprimenta o mestre e, como já era noite, começa a se preparar para dormir. O mestre nada demonstra de que soubesse alguma coisa.
No dia seguinte, ao acordar, o mestre lhe revela que testemunhara o ocorrido e de pronto adverte o pequeno: retorne àquela foz e desfaça a brincadeira; solte aqueles bichos... e torça para que nenhum deles tenha morrido, pois se isso acontecer, você terá que responder em seu destino pelo fardo que atrelou àquelas criaturas, assim é o movimento do universo. Então, o pequeno discípulo corre para aquele lugar. Chegando lá, não encontra o peixe, mas apenas o pedaço de barbante preso ao seixo - escapou, ufa! - ; procura agora a rã... e lá estava ela, no mesmo lugar... morta! E o pequeno discípulo põe-se a chorar copiosamente, sem ter mangas pra secar as lágrimas. Quanto à cobra, ainda, sabe-se lá! Lá também não estava...
E o monge, no mesmo longe, observava, e seu olhar era de pesar, muito pesar.
antônio bizerra
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