domingo, 11 de janeiro de 2015

Meditar _2



Não, os pensamentos não param. São assim mesmo, um fluxo infindável, um rio interior, perene. Às vezes, chegam a formar uma torrente, que vai levando um monte de coisas dentro de nós, casas, telhados, pessoas, bichos, deixando um sentimento de que não se há mais abrigo. Sim, sem mais abrigo dentro de nós mesmos.

E da mesma forma esse fluxo de pensamentos corre enquanto meditamos. Ininterrupto, sua mera natureza. Mas, mantemos os olhos fechados enquanto respiramos. É realmente só isso: manter os olhos fechados enquanto respiramos, atentando-se tão-somente à respiração, imaginando o ar descendo até o baixo-ventre, enquanto inspiramos, usando a musculatura desta região para esse intento; depois, exalamos, pressionando a mesma musculatura, abaixo do umbigo... tudo, porém, sem forçar. Porque os pensamentos nos desviam a todo momento de nossa concentração. Portanto, não devemos lutar contra esse fluxo, mas apenas observar, observar a nós mesmos, captar cada pensamento, acompanhá-lo um pouco em seu curso, e, depois, outro, e depois outro, e outro, e outro... assim, conforme a mente se movimenta, abraçando sucessivamente os pensamentos, indo de um a outro, sem nunca parar, nesta inquietação infinita, sua natureza.

Assim, quando não nos forçamos a manter a concentração, mas apenas nos exercitamos a procurar mantê-la, aí sim temos o momento da meditação. Com a prática, conseguimos nos concentrar mais e mais na respiração somente, com seus descansos naturais de se encher o peito, e depois voltar ao baixo-ventre de novo...

Em épocas quando eu estive muito triste, triste por me sentir desencontrado, por não saber mais, naqueles momentos, o que realmente cabia a mim fazer neste mundo, o que realmente eu deveria exercer para que se formasse algum sentido nesta vida, eu meditava e simplesmente quase não conseguia manter os olhos fechados. As pálpebras tremiam tanto que eu abria os olhos a todo tempo, e percebia que eles não queriam mesmo era  olhar para dentro. Porque quando fechamos os olhos, começamos a enxergar dentro de nós, e, quando enxergamos dentro de nós, percebemos o quanto ficou de desolação após vivermos momentos tão difíceis.

A prática do meditar é nada mais do que um exercício de concentração, que pode nos proporcionar serenidade e atenção calma. E, como toda prática, ela vai se aprimorando com o tempo. Meditar é essa coisa mesmo de procurar ver dentro, e, na verdade, não se faz necessário qualquer formalismo além de se fechar os olhos e atentar-se à respiração e, de preferência, que se imagine que o ar segue para o baixo-ventre quando se inspira, e se exala naturalmente, levando assim, quando menos percebemos, uma porção de pensamentos, e a mente vai se acalmando, e o corpo vai se acalmando, e o espírito...

Meditemos. Seja no metrô, dentro do ônibus, numa sala de espera... seja mesmo numa aula de yoga, ou numa aula de natação, ou durante uma caminhada... Meditemos, sem maiores detalhes.



Rio, 31 de dezembro de 2014


antônio bizerra